"...O que falta é o equilíbrio que lhes devolveria qualidade à sua vida. O princípio masculino perfeccionista, racional, orientado para a consecução de metas, tem de serequilibrado pelo princípio feminino. Esses dois termos, masculino e feminino, estão a tal ponto comprometidos atualmente que eu gostaria de esclarecer seu significado psicológico descrevendo um incidente simples.
No último verão, meu amigo Tony e eu, de pés descalços e cabelos ao vento, velejávamos em nossa pequena embarcação pelas águas encapeladas de Georgian Bay, deslizando à tona d'água, adernando, soltando mais os cabos, ao sabor das traiçoeiras correntes e do caprichoso vento da baía. Não sou marinheira mas adoro servir de tripulante para meu amigo velejador. Ele facilmente assume o comando do barco e, observando-o excitado e contido, cada músculo de seu corpo tensionado no esforço de manter o barco no rumo, dou-me conta, de repente, de que ele é uma metáfora para o equilíbrio entre masculino e feminino. Vejo o corpo forte e a mente atenta fundidos em perfeita harmonia, ao mesmo tempo concentrados e descontraídos, sensíveis às implacáveis energias em meio às quais velejamos. Sua mão direita controla os cabos com firmeza, seus dedos sensíveis às variações na energia do vento. Sua mão esquerda segura o leme com o mesmo nível de tensão, que não é absolutamente retesamento mas, antes, uma entrega consciente às energias da água. Sabemos que dependemos do vento e das ondas para ir adiante, mas dependemos igualmente de sua experiência de velejador. Uma falha de julgamento de sua parte, um momento de indecisão, e estaríamos sendo arremessados contra a baía, de cabeça e tudo. Com todas as velas içadas, nosso pequenino barco cruza as águas, como se o fizesse sobre o fio da navalha. Firmamo-nos com os dedos dos pés e nos inclinamos para trás, aproximando- nos o mais possível da água para manter o equilíbrio. As mãos dele ficam o tempo todo respondendo às mensagens que leme e cabos transmitem a cada instante.
Ao ancorarmos em segurança, piso no píer com pés ensangüentados de tantaforça feita e com as coxas trêmulas, queimando. Tony arria as velas calado, enrola oscabos e sorri, sabedor. O que sabe transpira de suas passadas enquanto sobe a escarpa, confiante, ereto, lépido. Ele conhece sua própria força; confia em seu corpo animal. É capaz de entregar sua força pessoal a outra, infinitamente maior que a sua. O eterno soprou nele porque ele se colocou na exata sintonia necessária para recebê- lo..."
Trecho de "O Vício da Perfeição" - Marion Woodman
Trecho de "O Vício da Perfeição" - Marion Woodman
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